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Ovar, Portugal
2006
Lena Engenharia & Construções S.A.

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O projecto do Centro de Arte de Ovar localiza-se numa área particularmente interessante e ao mesmo tempo problemática. A presença de algumas obras modernas e contemporâneas como o Mercado Municipal (obra prima da arquitectura moderna portuguesa), o cine-teatro e a biblioteca, a contiguidade do núcleo urbano mais antigo e duas linhas de água que se cruzam nas proximidades do lote, dão a este lugar condições excepcionais para que se venha a transformar num lugar público de grande centralidade.

No entanto, as hipóteses de implantação do Centro de Artes resultam extremamente condicionadas devido à conformação apertada do lote e à má qualidade do solo resultante da presença de água a uma cota muito elevada.

Tratando-se de um programa complexo para desenvolver num lote extremamente condicionado, pareceu-nos importante que a ideia principal, sobre a qual se desenvolveu o projecto, desse através de um único volume, uma resposta completa às exigências do programa e ao mesmo tempo comunicasse uma ideia de arquitectura contemporânea capaz de dar continuidade à qualificada cultura urbana de Ovar.

 

As diferentes funções articulam-se em seis pisos e são caracterizadas pelas exigências do Programa de Concurso e pelos objectivos arquitectónicos da proposta projectual.

Uma acessibilidade diferenciada permite a utilização autónoma das várias funções do edifício evitando o constante e oneroso sistema de manutenção. São previstas, com acesso directo da Via pública, uma entrada principal para o publico, uma entrada de serviços para os funcionários e uma entrada técnica de carga e descarga para o palco e sub-palco.

O piso -1, à cota mais baixa, com acesso directo desde a zona de entrada/recepção através de uma escada e elevador, é destinado a instalações sanitárias para o público.

O piso 0 é caracterizado por um pé-direito variável devido à conformação ondulante do tecto como consequência da inclinação do pavimento do auditório do piso superior. Ao átrio/recepção acede-se através de um pequeno volume realizado em ferro que tem a função de corta-vento. Este espaço articula a bilheteira/bengaleiro, o bar, a sala polivalente, a escada do público de acesso ao Foyer, o elevador e a escada que articula todos os pisos e uma passagem para a zona reservada ao pessoal de serviço e artistas.

Neste mesmo piso localiza-se o cais de cargas e descargas aberto directamente para o sub-palco servido por monta-cargas e onde se localiza a zona técnica para arrumo de instrumentos e a sala de piano.

A entrada de serviço com portão de controlo encosta-se aos edifícios preexistentes e constitui o eixo de articulação da circulação dos funcionários e artistas onde se localizam todos os serviços sanitários, vestiários, balneários, camarins e acessos verticais. Neste piso está localiza-se um camarim colectivo e a sala de figurinos e costura.

Uma escada com dois lanços, emergente na fachada lateral, caracteriza a praceta que se forma junto da esquina do o do edifício e recupera uma relação cenográfica e representativa na ligação entre o átrio e o foyer. Dois grupos de escada/elevador articulam os acessos às várias zonas públicas, semi-públicas e áreas de acesso restrito.

No Piso 1, localiza-se o palco e duas entradas ao auditório, uma de acesso restrito ao pessoal de serviço e outra para o público. No eixo de serviços localizam-se dois camarins individuais que proporcionam o apoio directo ao palco. A este acede-se de um lado através de um conjunto de quatro degraus e do outro através de uma possível escada em caracol que, vindo a ser colocada poderá permitir aos artistas uma saída alternativa, ligada ao eixo de serviço através de um percurso colocado à cota do piso 0.

No piso 2 localiza-se o Foyer e a régie de som e luz.

O auditório tem quatro possibilidades de acesso para o público: duas directamente articuladas com o Foyer à cota do Piso 2 e duas laterais servidas por um largo corredor em rampa que acompanha a inclinação da sala do auditório e por consequência proporciona relações directas com os corredores transversais do auditório. O foyer, localizado a sete metros acima do átrio de entrada formando varandim sobre este, configura-se como um dos momentos centrais da estrutura espacial do edifício. Neste nível localiza-se um grupo de instalações sanitárias para o público, de apoio exclusivo do auditório nos intervalos dos espectáculos e articulado por acessos completamente separados do circuito de serviço.

O Piso 3 é constituído essencialmente pelas cabinas de projecção e de tradução simultânea acessível pela zona de serviço. Neste piso localizam-se as instalações sanitárias do pessoal e o sanitário da regi.

O Piso 4, onde se localiza a zona técnica, sobre o tecto do auditório, permite a gestão dos sistemas de iluminação e dos dimers. Tratando-se de uma área restrita ao pessoal técnico, incorpora também as instalações sanitárias e balneários do pessoal.

No Piso 5 estão localizam-se as áreas com carácter semi-público, das quais as salas de ensaio e os espaços administrativos. Estes espaços abrem-se para um pátio através de uma caixilharia de alumínio e vidro permitindo a iluminação e ventilação dos espaços, e ao mesmo tempo proporcionar um espaço exterior de apoio aos funcionários. As salas de ensaio servidas por uma galeria aberta sobre o Foyer, permite dar continuidade a actividades lúdicas e a ateliers ou seminários durante os períodos em que a função principal de ensaios não seja necessária. Estes espaços, divididos por grandes painéis pivotantes adquirem, quando estes estão rebatidos a configuração de uma grade sala única. As salas de ensaio e a área administrativa são servidas por um balneário colectivo e por um sanitário respectivamente. As paredes das salas de ensaio e o tecto não são hortogonais de modo a garantir as melhores características acústicas.

 

Os valores subjectivos que determinam os caracteres arquitectónicos dos vários edifícios da envolvente determinaram opções de simplificação volumétrica e dos materiais a usar.

Em especial a definição volumétrica define-se a partir da construção de um paralelepípedo apoiado no terreno que encontra as suas relações através de abertura de eixos visuais e articulações entre funções e materiais.

A inclusão da torre da cena no interior do volume paralelipipédico do edifício constitui-se como uma opção arquitectónica finalizada à contenção formal numa lógica de simplificação geométrica da forma urbana. Uma escolha de carácter urbano contraposta a uma excepção espacial interna marcada pela articulação da torre cénica no seu contacto com os diferentes pisos.

Uma dupla pele realizada em aço e vidro, em parte transparente e em parte opaca constrói as fachadas sobre o espaço público. Uma dupla pele com capacidade de adaptação ás diferentes situações climatéricas durante as variações das estações e do dia. Uma grelha metálica tridimensional com acessibilidade condicionada aos trabalhos de gestão e manutenção irá ter funções estruturais e o mesmo tempo de quebra sol.